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domingo, 22 de junho de 2014

PROTESTOS - O INVERNO BRASILEIRO NA AGENDA REVOLUCIONÁRIA



O inverno brasileiro na agenda revolucionária
 
Alguns meses depois das manifestações de junho de 2013, chamadas pelos organizadores de “Jornadas de Junho”, uma reunião em Brasília com os principais grupos envolvidos propunha o aprofundamento da revolução em marcha através de um maior trabalho de base com o fim de manter os “núcleos populares” mobilizados. Essa mobilização com o trabalho de base já tinha o objetivo declarado de dar continuidade aos movimentos iniciados em 2013 também durante a Copa de 2014.
 
As “Jornadas de Junho”

O principal agente do estopim dos protestos de 2013 foi o Fora do Eixo, um coletivo de movimentos sociais reivindicadores de investimentos e financiamentos culturais, com claros vínculos como Ministério da Cultura, de onde provinham uma parcela importante do apoio financeiro e até logístico daquela onda de protestos, algo que ficou evidente. Tão logo os movimentos tomaram corpo, a presidente Dilma se viu chamada a dar uma resposta. Chegou a se falar em convocação de uma Assembleia Constituinte, o que foi afastado de imediato diante da obviedade do exagero da proposta. No entanto, a expressão da reforma política como solução saiu fortalecida destes episódios e a proeminência de partidos de esquerda ficou evidente. Surgiram à cena política os Black Blocs, outro coletivo de inspiração internacional historicamente ligado a protestos financiados internacionalmente. A presença do Annonymous e outros grupos de ativistas ligados aos grandes grupos internacionais por trás de eventos de Wall Street e da Primavera Árabe, ficou evidente.
 
O Rolezinho

Já no início de 2014, ano da Copa, o Brasil viu surgir um novo fenômeno social midiático: o rolezinho dos shoppings. Desta vez, um pouco afastada da ideia do suposto lobby cultural do Fora do Eixo, o rolezinho foi apresentado pela mídia como a manifestação autêntica da consciência da periferia urbana, aliando a cultura do hip-hop às reclamações da marginalização vindas diretamente do povo. O que evidentemente era um resultado do trabalho de base, isto é, assimilação de ideias revolucionárias pelas comunidades populares, trouxe de volta os Black blocs e o que se seguiu foi um pequeno retorno de manifestações. A morte do cinegrafista da Band nos protestos parece não ter sido suficiente para que a mídia percebesse o quanto estava sendo utilizada como trampolim revolucionário. Talvez a divulgação do episódio dos militantes pagos pelo PSOL fosse uma tímida revanche midiática como quem dá um alerta aos militantes. A parceria entre mídia e essa militância de base seguiu-se independente disso. A Mídia Ninja, ramificação do Fora do Eixo, cresceu dentro deste processo e se fortaleceu como força integradora e manipuladora de diversas comunidades. O objetivo é deixar tudo pronto para a mobilização total.
 
A Copa do Povo

Às portas da Copa do Mundo, as notícias sobre a violência e os atrasos das obras da Copa alcançaram a mídia internacional, o que gerou um efeito de pautas negativas ao Brasil. Ameaças de greve acumulam-se pelo país e efetivam-se. Resultado do trabalho de base. O governo parece em maus lençóis, pois há uma parcela dos movimentos que querem forçar mudanças revolucionárias, mas sem descartar a retirada, se necessário, do atual aparato de poder do qual o PT faz parte. Mas a solução para isso já está a caminho.
No cenário midiático, esfera da opinião pública, o Fora do Eixo esteve ausente desde o ano passado. Mas sua atuação tem sido chave para a mobilização gradativa que vem ocorrendo e prometendo a todos um verdadeiro banquete revolucionário. Na fachada, falam em uma “nova democracia” e até “nova república”. O coletivo tem preparado uma tomada de posição importante nos próximos dias e os objetivos não são modestos. Diz uma matéria já em 2011 sobre o Fora do Eixo:
 
“Para o Fora do Eixo a cultura é apenas um pretexto e, atualmente, passaram a buscar meios para chegar na política. Segundo Capilé, o coletivo conseguiu nesses 5 anos 'musculatura e capilaridade nacional'...”
 
Em entrevista recente para a coletânea “Produção Cultural no Brasil”, Pablo Capilé responde o que pretendem na política formal: “Pretendemos criar um ambiente favorável para que daqui há trinta anos o presidente da República possa sair de uma perspectiva ligada a isso que nós estamos construindo. Há trinta anos, ele saiu do sindicato, então podemos tentar criar uma plataforma onde a cultura consiga ganhar mais espaço na agenda.”
 
De acordo com as informações do blog de uma participante que se desiludiu com os métodos e organização do Fora do Eixo (http://dapenny.net/2014/05/a-republica-do-fora-do-eixo/), embora o coletivo se orgulhe de suas decisões em assembléias populares, tudo vem decidido de cima e apenas comunicado aos membros em uma verdadeira encenação de deliberação coletiva. A ativista se decepcionou com o Fora do Eixo porque eles não querem fazer protestos. Segundo ela, o objetivo deste grupo é politizar os protestos levando-os para o lado do governo.
 
“Vão conquistar corações e mentes dos jovens que ao invés de ir se manifestar, vão passar a Copa do Mundo acampados ali acreditando que estão fazendo a revolução. Vão acalmar os ânimos daqueles que estariam se manifestando. Vão propor atos despolitizados por causas abstratas como liberdade, paz, contra a corrupção, amor, etc. e, sutilmente, nas conversas de corredor, vão fazer campanha pra Dilma”, diz a blogueira que parece ainda sonhar com utópicos protestos sociais vindos do povo livre de manipulações.
Agora, o Fora do Eixo promete fazer uma “ocupação”, criar uma “república”, um lugar de debates populares. Diz Capilé em entrevista à Zero Hora sobre o trabalho que eles vêm fazendo:

“a gente tem trabalhado para conectar movimentos que já desenvolvem uma vida comunitária há muito tempo. Indígenas, povos de terreiro, movimentos rurais e urbanos que têm trabalhado de forma comunitária e têm trabalhado para que essa comunidade consiga discutir com o resto da sociedade”.
 
Agenda global e Foro de São Paulo

Por trás dos movimentos populares no Brasil, está um grosso financiamento internacional de fundações como a Fundação Ford, que de acordo com dados atualizados, despeja investimentos anuais em uma incrível quantidade de instituições e ONGs brasileiras para promover a justiça social e a mobilização nas periferias (http://www.fordfoundation.org/regions/brazil/grant-making)
O presidente do MST, João Pedro Stédile, em palestra em Roma no início de 2014, disse que os movimentos sociais no Brasil trabalham em duas frentes específicas: incentivar todas as manifestações populares possíveis e fazer a conscientização para propor, até setembro de 2014, a tão sonhada reforma política, evidentemente nos moldes revolucionários do Foro de São Paulo. Atualmente há duas reformas políticas sendo discutidas. Segundo são chamadas pelos militantes, há a “reforma política antidemocrática” e a “reforma política popular democrática”, sendo esta última a preferida e defendida por eles.
Em vários países latino-americanos já está havendo discussões de propostas de novas constituições. No Brasil, embora a menção feita por Dilma tenha sido descartada, já está entre as metas revolucionárias do Foro de São Paulo, e portanto é só uma questão de tempo, ou seja, de tempo para a assimilação da ideia, ou melhor, da necessidade da ideia. Isso não pode ser feito sem a ajuda da mídia e é por isso que importa, neste processo, a eficiente construção da imagem dos protestos. Suas reivindicações precisam ser encaradas pela população como legítimas e os problemas para os quais buscam soluções, parecerem também verdadeiros.
 
Se tudo der errado, porém, os globalistas fabianos que financiam a brincadeira toda estarão de braços estendidos para ajudar o governo do PT a permanecer no poder e continuar com o lento processo revolucionário com o qual estão comprometidos ao mesmo tempo. São dois grandes comprometimentos do Brasil, com o Foro (de onde vem a ideologia) e com os globalistas ocidentais (de onde vem o dinheiro), com os quais o governo terá de se entender se quiser permanecer no poder.


Cristian Derosa
é mestre em jornalismo pela UFSC e editor na Rádio Vox.
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